Eis que surge este "Moonrise Kingdom", que, ao lado de "Cosmópolis" e uns poucos outros, está entre os bons filmes deste fraco 2012. Escrever algo sobre Wes Anderson e seu Moonrise Kingdom me parece uma tarefa muito menos árdua. E já que tenho tempo de menos e preguiça de sobra, acho que essa é a melhor opção. Então, vamos a eles.

Ignoro completamente o que Wes Anderson fez antes de "Os excêntricos Tenenbauns" (2001) e isso talvez não importe tanto, porque foi a partir daí que Anderson de fato virou um diretor cultuado (estou dizendo isso com base no meu coração, no meu sentimento, não tem dado nenhum nisso, então posso estar redondamente enganado). O fato é que conheci o trabalho de Wes Anderson a partir daí. E não engolia esse cara nem ferrando, apesar de admitir que, em termos de humor, ele tinha lenha para queimar; nesse ponto o filme tinha lá algum interesse. O que me incomodava, e muito, era a necessidade que o filme tinha de parecer excêntrico, e tudo aquilo (dos figurinos aos movimentos de câmera) me soava como uma coisa meio metida a besta, uma enganação sem fim. Era muito artifício para pouco assunto. Depois veio "A vida marinha com Steve Zissou" (2004) e não mudei muito de opinião, inclusive continuava vendo certa originalidade humorística na abordagem de Anderson. A coisa muda de figura quando vi "Viagem a Darjeeling", que tinha uma bela história sobre três irmãos que faziam uma viagem pela Índia, que era sobretudo uma viagem de reconciliação. Ali, os artifícios de Anderson pareciam funcionar a favor do filme. Talvez fosse isso que faltasse a Wes Anderson, uma bela história. É o que se vê também em "O Fantástico Sr. Raposo", uma ótima animação de 2009, até hoje o filme de Anderson que mais me agradava. Aliás, até ontem, porque hoje é "Moonrise Kingdom" na cabeça.

Moonrise Kingdom parece reunir o que Wes Anderson tem de melhor, coisas que eu já tinha percebido a partir de "Viagem a Darjeeling" mas que me escaparam nos filmes anteriores. A história de Suzy e Sam é de uma beleza meio torta, e isso me ganhou logo de cara. O humor afiado é novamente um ponto muito forte e tudo é tratado com muita sensibilidade (e bastante ousadia), sem contar que é muito difícil resistir ao clima nostálgico do filme (aliás, todos os anteriores têm esse clima, mas aqui parece ser mais forte). É uma bela história de amor contada com muita originalidade. Vocês devem ter percebido que o que antes eu chamava de "artifício" agora estou chamando de "originalidade". Ainda estou sob o efeito do filme que, para mim, está quilômetros acima da média das comédias românticas feitas hoje em Hollywood. Saí do cinema com a sensação de que preciso voltar aos filmes mais antigos de Anderson. Posso estar errado (e normalmente estou), mas tenho a impressão de que estou prestes a redescobri-los agora que o preconceito (sim, acho que era puro preconceito) que eu tinha contra Wes Anderson finalmente foi quebrado. Minha nova promessa para este fim de ano (ou não).
